domingo, outubro 01, 2006

VERDADES E MENTIRAS (*)

Por Jair Alves ? dramaturgo


No jornal da Globo desta noite o apresentador, em tom grave, após ser exibida pela enésima vez uma imagem conseguida, de forma ilegal e covarde, pergunta: é constrangedor a exibição da pilha de dinheiro? Ele mesmo confirma que sim, no entanto, diz que mais grave é a tentativa de o PT de ter tentando impedir, na Justiça, a exibição da mesma. Procurar caminho da Lei agora é imoral??? Este é o vale tudo, no qual a população está entregue. Os meios de comunicação, que hoje gozam de toda a liberdade zombam daqueles que, num passado não muito distante, entregaram sua vida para que construíssemos a democracia. Democracia que hoje está sendo usada para que esses mesmos meios de comunicação empurrem, garganta abaixo, uma candidatura que, durante mais de um semestre, não conseguiu entusiasmar o eleitorado.


Os responsáveis por esse programa jornalístico (mas também O Estadão, A Folha, A Veja, Isto É e outros) querem que a população também engula o ilegal, como "mal necessário". Tripudiam àqueles que procuram os limites da lei, para se proteger. Nas últimas semanas, vários absurdos foram cometidos por alguns promotores, nomeados e pagos com dinheiro público, para garantir o estado de direito e, no entanto, como na ditadura militar, abusam dos instrumentos de que são portadores para sufocar a verdade e interferir na história. Os desmentidos passam desapercebidos nesta imprensa corrompida, que insiste em acusar adversários do candidato sem brilho, de corruptos. É o caso da farsa do "não grampo no TSE" e o caso, agora, do pedido de prisão dos "suspeitos de compra ilegal de dossiê", agora à noite revogada pela própria Justiça. Neste último caso, o teatro do absurdo ficou obsoleto. Não existe, na Lei brasileira, homicídio se não houver vítima (ou seja, o corpo do assassinado). Se existe tentativa de compra de dossiê, portanto deve existir (e onde está) este dossiê? Para que haja a configuração de um crime dessa natureza, é preciso ficar evidente a vantagem que o responsável pelo ato criminoso teve. E que vantagem o candidato Lula levaria nessa história? No entanto, essa imprensa não se importa com os danos, provocados ou não, à candidatura do suposto beneficiado pela suposta compra, o candidato Mercadante.



Em todos os casos, no entanto, o moto-contínuo do vale tudo é usado para desmoralizar e interferir, não pelo debate livre e democrático, mas sim pelo boicote à campanha da reeleição. O mais triste e trágico desse jogo sujo é que segmentos que se julgam "mais à esquerda" zombam, ou demonstram dar pouca importância, ao golpe na democracia em curso. Apostam no quanto pior melhor. Potencializam o não comparecimento do candidato Lula no debate (debate?) da tevê Globo, como se ali, de fato, fosse mostrado para a população indecisa o melhor caminho a ser seguido. Desafiamos alguém a puxar pela memória e trazer à tona uma cena do passado tão grotesca, de palavras de ódio e desprezo pelos adversários, como o que ouvimos ontem da boca dessa falastrona HH. Desafiamos a encontrar no passado uma manifestação tão agressiva, e incluímos ai, Paulo Maluf, Collor, Ademar de Barros e Dr. Enéas. Não encontrarão, temos certeza.


Tememos pelo futuro que se avizinha, não nos termos da atriz Regina Duarte, na campanha presidencial passada. Ela falava do medo dela, do medo que um operário chegasse ao poder. Um operário a quem muito a democracia brasileira deve, não só a ele, mas toda uma geração de trabalhadores que enfrentaram o regime militar, primeiro na Justiça, depois no enfrentamento físico. Tememos pelas gerações futuras, pois estão sendo formadas debaixo do trauma da mentira e das manobras. Como os hipócritas, os adversários do candidato Lula ousam acusá-lo de "autoritário". Tal prática de apoderar-se do discurso do adversário originou-se no terceiro governo militar, quando tudo era relativo: a abertura, a democracia e, por ultimo, também a vida.


A luta dos comunicadores e dos legisladores foi para garantir a liberdade de pensamento e de expressão, e não para usar a propriedade dos meios de comunicação para sufocar quem não tem voz. Os reflexos dessa campanha sórdida já se fazem sentir na população desinformada. A população está confusa e ninguém está se importando com as conseqüências desses atos. Articula-se, uma história sangrenta de atraso político e social. Articula-se, com o escárnio daqueles que ainda se julgam à esquerda, um golpe no que foi construído por mais de trinta anos - a democracia brasileira.



(*) Vérités et mensonges

Filme de Orson Welles ? 1.974

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