terça-feira, janeiro 02, 2007

Cadeia de negócios: O mercado bilionário que lucra com a maior população carcerária do planeta

Por Gustavo Poloni

Uma das maiores forças do capitalismo americano é a capacidade empreendedora dos executivos, que são permanentemente encorajados a investir e a competir nas mais diferentes áreas da economia. A crença irrefreável dos americanos nas virtudes do setor privado faz com que alguns negócios assumam por lá proporções inéditas. Um exemplo é o mundo bilionário que se formou ao redor do sistema penitenciário -- um setor delegado, em quase todos os países do mundo, à gestão pública. Os Estados Unidos têm a maior população carcerária do planeta, 2,2 milhões de pessoas. Como a legislação possibilita a ampla participação das empresas privadas, as companhias estão aproveitando a oportunidade para obter bons lucros. Hoje, elas são contratadas pelo governo para projetar e construir presídios, vigiar e reabilitar detentos e prestar serviços gerais, como limpeza das celas e alimentação dos presos. O resultado é um mercado de 37 bilhões de dólares, que deve continuar em expansão, pois o número de presos cresce à taxa de 3,4% ao ano desde 1995.

As leis que regulamentam o sistema carcerário variam de um estado para outro. Mas, em linhas gerais, elas dão autonomia para que empresas assumam o controle de uma casa de detenção (no Brasil, elas podem trabalhar em presídios servindo quentinhas e lavando roupas, por exemplo). Uma das gigantes americanas do setor é a Corrections Corporation of America (CCA). Quando foi fundada, em 1983, ganhou do governo do Texas o direito de cuidar de 650 presos. Duas décadas depois, a CCA faz negócios com 65 presídios americanos em 19 estados e vigia 72 500 condenados. Pelo serviço, recebe 1,2 bilhão de dólares por ano. As cifras impressionam mesmo quando alguns filões do mercado são analisados separadamente. A conta dos telefonemas feitos pelos detentos chega a 1 bilhão de dólares ao ano. A gastança despertou a atenção de gigantes como a AT&T, que fechou parcerias para instalar telefones fixos nos presídios. O nicho de novos serviços também vem crescendo. Exemplo disso é o personal trainer Steven Oberfest, perito em dar aulas de defesa corporal para condenados por crimes do colarinho-branco. Beneficiado pela recente onda de escândalos corporativos, Oberfest conquistou uma clientela de 30 pessoas, que lhe renderam em 2006 um faturamento de 600 000 dólares.

O mercado do cárcere
Números do sistema penitenciário americano
37 bilhões de dólares
Total de dinheiro movimentado em 2005 pelas empresas que atuam na área nos Estados Unidos
125000 presos
Cumprem pena em presídios privados
1,2 bilhão de dólares
Faturamento da Corrections Corporation America,a maior empresa do mercado de cárcere nos Estados Unidos

A privatização do sistema carcerário nos Estados Unidos teve início nos anos 80. Como o governo não conseguia construir presídios na mesma velocidade em que prendia bandidos, a iniciativa privada entrou em cena para oferecer segurança. Os críticos da privatização acusam as empresas de fazer lobby por sentenças mais longas e batem na tecla de que a segurança pública é dever do Estado. Já os defensores insistem que os presídios privados são um mal necessário. Segundo a Association of Private Correctional & Treatment Organizations (APCTO), associação que representa o setor, a construção de uma casa de detenção pública pode demorar até cinco vezes mais e custar 25% mais caro. "Infelizmente, a população carcerária no país está crescendo", afirmou a EXAME Paul Doucette, diretor da APCTO. "Mas as empresas estão animadas com a demanda por novas vagas."


Fonte: EXAME


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