terça-feira, novembro 27, 2007

Uribe cogita nova reeleição na Colômbia. Nossa mídia o contestará?

O comportamento de nossa mídia tão crítica a Hugo Chávez poderá ser melhor compreendido atentando-se para o tratamento que será dado a esse novo projeto dos partidários do presidente Álvaro Uribe, na Colômbia.
Atacada pela grande imprensa brasileira como mais um passo rumo ao “regime ditatorial”, a proposta de conceder ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, o direito de tentar se reeleger novamente será avaliada pelos próprios venezuelanos, através do plebiscito popular do dia 2 de dezembro.

O direito a mais de uma reeleição é apenas um dos itens do projeto de reforma constitucional, que propõe também o estabelecimento de novos tipos de propriedade além da privada e a eliminação da autonomia do Banco Central. Entretanto, tem sido aquele item o mais destacado, a ponto de parlamentares brasileiros usarem a cláusula democrática do Mercosul para tentarem evitar a entrada da Venezuela no bloco.

A dúvida que fica é se a restrição a Chávez tem mesmo a ver com preocupações democráticas ou se passa sobretudo pelas divergências ideológicas entre o venezuelano e seus críticos. Uma prova dos nove poderá ser feita com a visibilidade a ser dada para os debates sobre a reeleição que começam a ganhar força na Colômbia.

O atual presidente Álvaro Uribe governou o país entre 2002 e 2006, quando a reeleição era proibida, mas conseguiu alterar a Constituição e participar novamente da disputa no ano passado, que venceu. Agora, segundo reportagem da Agência Ansa, o ex-congressista Luis Guillermo Giraldo, considerado próximo ao presidente, abraçou a idéia de fazer uma campanha para permitir que Uribe se candidate novamente, em 2011.

O projeto prevê a criação de um comitê e a coleta de assinaturas a favor da proposta. Em público, Uribe rechaçou a idéia, mas nos bastidores, também segundo a Ansa, teria admitido concorrer. A grande imprensa brasileira denunciará essa manobra do líder colombiano rumo a “ditadura” ou o que vale para a Venezuela não vale para a Colômbia?

Em si, a possibilidade de um membro de cargo executivo se reeleger mais de uma vez, tomada isoladamente, não é sinônimo de “regime ditatorial”. Os Estados Unidos não abandonaram sua democracia após os quatro mandatos de Franklin Roosevelt, na primeira metade do século XX, e nem o PRI necessitou de uma reeleição sequer para governar o México por 71 anos, entre 1929 e 2000.

Tempo de permanência de um mandatário no poder é um critério falho para medir o quão democrático é um país. A democracia necessária, ao contrário do que desejam muitos críticos de Chávez satisfeitos com regimes representativos, tem de passar necessariamente pelo empoderamento popular. Nesse aspecto, quem é mais democrático: Chávez ou Uribe?

Fonte: Agência Carta Maior

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