sábado, abril 19, 2008

Educação é o legado mais duradouro de Cuba

Atenção: não concordo com a maioria das idéias deste rapaz que se julga conhecedor de educação (é um jovem economista oriundo da elite gaúcha), mas achei interessante algumas colocações dele.

Educação é o legado mais duradouro de Cuba

Reuters
Em Cuba, 100% dos alunos atingem o nível básico de leitura

Chega ao fim, melancolicamente, o reinado de Fidel Castro sobre Cuba. É difícil de prever o que acontecerá com a ilha no curto prazo, enquanto Fidel e seu irmão estiverem no poder, mas a médio e longo prazos parece inevitável que a ilha abandone o comunismo e se integre à economia global, provavelmente de maneira distinta das demais ilhas caribenhas, pois Cuba tem um patrimônio altamente estratégico: capital humano, a capacitação de sua população.

O sistema educacional cubano será certamente o legado mais duradouro e positivo que a passagem de Fidel deixará sobre o país (nada que justifique ou desculpe, é claro, a ditadura que se instalou por lá. A liberdade é um direito inegociável.)

Cuba é a exceção educacional da América Latina, o país que alcançou os níveis educacionais do Primeiro Mundo. Estudo da UNESCO do final da década de 90 coloca o ensino cubano com grande folga em relação aos demais países latinos. 100% de seus alunos atingem o nível básico de leitura e 92% dos alunos da rede urbana alcançam também o nível de compreensão mais avançado do estudo da linguagem (no Brasil são 58%, na Argentina 59% e no Chile 60%). A nota média cubana na área de linguagem foi de 342 pontos, contra 277 dos argentinos e 269 dos brasileiros. As diferenças são ainda mais gritantes na área de Matemática, em que três quartos dos cubanos das regiões urbanas chegam ao nível máximo de aproveitamento, contra índices de 10% a 12% de países como Chile, Argentina e Brasil.

O país matricula praticamente 90% de sua população entre 3 e 18 anos de idade. No nível de educação pré-primária, essa taxa é de 100%, índice que se mantém praticamente inalterado no ensino primário. A taxa de conclusão do ensino secundário bate nos 80%. A matrícula no ensino superior está em 61%, nível semelhante a vários países europeus.

Infelizmente, se sabe menos do que o ideal sobre como Cuba chegou a esses níveis. Sabe-se que o país investe muito em educação e que treina seus professores com afinco. Descobri recentemente que eles também utilizam um sistema surpreendentemente meritocrático na avaliação e remuneração dos professores. O salário é vinculado ao resultado da avaliação dos professores, e aqueles que recebem a avaliação mais baixa “ganham” um ano sabático em que o professor deve estudar e se requalificar. Não obtendo êxito no processo de requalificação, é demitido. Até que ponto o arcabouço educacional que norteia a educação cubana será compatível com um sistema democrático – em que governantes têm de lidar com sindicatos e imprensa livre, além de precisar ratear as verbas federais para outras áreas por questões de conveniência política – é uma questão em aberto que só poderemos responder depois que o país migrar para a democracia. Nesse momento, também será possível pesquisar o sistema cubano com maior liberdade – tanto em relação ao governo local quanto às patrulhas ideológicas que cercam a questão cubana fora da ilha.

Oxalá essa experiência de sucesso possa ser mantida no novo capítulo da história daquele país que agora se abre, e que possa servir de fonte de políticas públicas replicáveis em outros países.

Fonte: Gustavo Ioschpe, na Veja



Nenhum comentário: