sábado, abril 04, 2009

Internacional comemora 100 anos de glórias e títulos

Diretoria planeja eventos até o fim do ano para celebrar trajetória vitoriosa dentre os clubes brasileiros

Giuliander Carpes - O Estado de S. Paulo



Toru Hanai/Reuters
Meia Fernandão segura o troféu de campeão do Mundial de Clubes da Fifa, em 2006, no Japão

PORTO ALEGRE - Na noite de sexta, milhares de torcedores do Internacional se reuniram no Estádio Beira-Rio para esperar o primeiro minuto deste sábado, 4 de abril de 2009. Hoje, o colorado gaúcho comemora sua entrada no seleto grupo dos clubes centenários do Brasil. Sobram motivos a celebrar. A própria torcida estufa o peito para dizer: "O Inter é campeão de tudo."

O título da Copa Sul-Americana do ano passado era o único que faltava para garantir ao colorado tal distinção. Desde 4 de abril de 1909, o Inter conquistou todos os troféus que um clube de futebol pode almejar. Foram anos de espera, com algumas tentativas frustradas, até fazer jus ao próprio nome e conquistar um Mundial, em 2006.

"Os colorados jamais vão esquecer dessa conquista e, com certeza, lembram do jogo assim como eu", afirma Fernando Carvalho, presidente do clube naquele ano. Além dessas duas taças, o Inter venceu 38 Estaduais, 3 Brasileiros, 1 Copa do Brasil e 1 Copa Libertadores.

A contagem regressiva para o centenário foi apenas o primeiro passo da festa que vai durar o ano inteiro. Está programado, entre outros eventos, um jantar hoje à noite para 3 mil convidados e shows com Ivete Sangalo, Zeca Pagodinho e Martinho da Vila para dezembro.

Mas toda a celebração não deve atrapalhar o futebol. Ao menos é isso o que a direção colorada planeja. Nada de investimentos exacerbados pelos 100 anos. O que o Inter quer, de verdade, é outro título nacional e voltar à Libertadores no ano que vem. "No Brasil, há o estigma do mal do centenário. Muitos clubes caem ou quase caem para a Segunda Divisão nesse ano. Estamos atentos a isso e não vamos tirar recursos do futebol para as comemorações", garante o vice-presidente de marketing, Jorge Avancini.

O torcedor não há de se importar em poupar energia para voltas olímpicas. Depois da conquista do Mundial, 2007 e 2008 foram anos de intenso júbilo e orgulho para a metade vermelha do Rio Grande do Sul.

Tanto que o Inter é hoje o clube com mais associados na América Latina - cerca de 80 mil. A alegria incontida chegou a prejudicar o futebol. A temporada seguinte ao maior título da galeria colorada foi um rotundo fracasso, mesmo com a manutenção da equipe-base que trouxe o troféu de Yokohama.

Depois de uma reformulação do elenco - em que saíram ídolos campeões mundiais, como Fernandão, Iarley e Pato -, o Inter aposta agora na técnica do argentino D’Alessandro ao lado de Nilmar, Taison, Guiñazu e companhia para voltar a vencer um Campeonato Brasileiro, o que não consegue desde os tempos de Falcão, em 1979.

PORTO ALEGRE
A rivalidade com o Grêmio explica desde o surgimento até o sucesso do Colorado. O Internacional não existiria hoje se não houvesse o arquirrival. Isso porque os fundadores do clube vermelho, os irmãos italianos José e Henrique Poppe, recém-chegados de São Paulo, não foram aceitos no tricolor, um clube mantido por e para alemães.

Resolveram, então, fundar seu próprio time, o mais democrático que uma agremiação da época poderia ser. Para provocar - a prática vem de longe - o lado azul, dois negros, que não poderiam se filiar ao Grêmio, ainda assinaram a ata de fundação do Sport Club Internacional no dia 4 de abril de 1909.

Mas a pretensão de se contrapor ao Grêmio só tomaria corpo muitos anos depois. O Inter só tomaria a dianteira do clássico Gre-Nal 36 anos mais tarde, com um time apelidado pela torcida como "Rolo Compressor". No clássico de número 89, em 30 de setembro de 1945, venceu o jogo por 4 a 2 e superou o adversário: 38 vitórias contra 37.

Dali em diante o lado azul do Rio Grande penaria em segundo plano na história dos clássicos. A estatística atual comprova. O Inter venceu 140 jogos contra os arquirrivais, enquanto o Grêmio conquistou 118 vitórias.

Tal vantagem foi construída em boa medida nos anos 70. O Inter acabara de levantar seu estádio e tinha um time cujo maestro havia ajudado a colocar os tijolos no Beira-Rio: Paulo Roberto Falcão. Ao lado de Figueroa, Carpegiani e outros craques, o camisa 5 levantou os três primeiros títulos nacionais do Rio Grande do Sul, em 1975, 76 e 79 - este último invicto. "É uma conquista que poderá ser igualada, mas nunca superada", disse o volante à época.

Falcão foi embora no final de 1980 e os colorados viram, com desgosto, a gangorra virar para o lado gremista - comenta-se, no Estado, que quando um dos times vai bem, o outro amarga maus resultados.

Durante os anos 80 e 90, o Inter mostrou resistência apenas com o vice do Brasileiro, em 1988 (bateu o Grêmio na semifinal, no "Gre-Nal do Século") e o título da Copa do Brasil em 1992. E recuperou a hegemonia nos anos 2000, culminando com o Mundial de 2006.

ASCENSÃO DO CLUBE DO POVO
Não faltam glórias ao colorado gaúcho. E, claro, jogos marcantes, com gols que ainda hoje são capazes de arrepiar o torcedor do Inter - mesmo que não tenha presenciado a jogada.

Como não se emocionar ao reviver o gol do zagueiro Figueroa na final do Campeonato Brasileiro de 1975 contra o Cruzeiro? Os mais de 82 mil torcedores que estavam no Beira-Rio naquele 14 de dezembro não podiam acreditar no que viam. Dom Elias, como era chamado, subiu em meio aos defensores mineiros e tocou a bola no único ponto iluminado do estádio naquele fim de tarde: 1 a 0, e o 1º título nacional do Clube do Povo.

Um ano mais tarde viria o bicampeonato. Mas o jogo mais marcante foi na semifinal, contra o Atlético-MG. Os mineiros marcaram primeiro, mas sofreram o empate no segundo tempo. Quando o jogo se encaminhava para a prorrogação, Escurinho e Falcão trocaram passes de cabeça desde a intermediária até o volante concluir para as redes: um dos gols mais bonitos da história do Brasileiro. Na final, o Inter bateu o Corinthians, por 2 a 0, e coroou a campanha.

Em 1979, depois de ser preterido por Brandão na convocação do Brasil para a Copa do Mundo de 78, Falcão arrasou. Na semifinal contra o Palmeiras marcou dois gols na vitória por 3 a 2. Os palmeirenses disseram: "Não perdemos para um time, perdemos para o melhor jogador do mundo."

Em fevereiro de 1989, Inter e Grêmio fizeram o Gre-Nal do Século, pela semifinal do Brasileiro de 88. O Colorado venceu por 2 a 1 num clássico memorável, cheio de brigas e provocações. Os azuis saíram na frente, mas os donos do Beira-Rio viraram com Nilson.

Em 2006, o colorado mais otimista ainda duvidava que o Inter pudesse ser campeão mundial sobre o estelar Barcelona. Mas Adriano Gabiru marcou o gol do jogo e trouxe para Porto Alegre a taça mais valorizada pelo lado vermelho do Rio Grande do Sul.

Nenhum comentário: