quarta-feira, abril 29, 2009

Virei cientista, apesar dos meus professores

Gostaria de poder lhes contar sobre professores de ciência inspiradores nos meus tempos de escola primária e secundária.

Mas, quando penso no passado, não encontro nenhum.

Lembro-me da memorização automática da tabela periódica dos elementos, das alavancas e dos planos inclinados, da fotossíntese das plantas verdes, e da diferença entre antracito e carvão betuminoso.

Mas não me lembro de nenhum sentimento sublime de deslumbramento, de nenhum indício de uma perspectiva evolutiva, nem de coisa alguma sobre idéias errôneas em que outrora todos acreditavam.

Nos cursos de laboratório na escola secundária, havia uma resposta que devíamos obter.
Ficávamos marcados, se não a conseguíamos.

Não havia nenhum encorajamento para seguir nossos interesses, intuições ou erros conceituais.

Nas páginas finais dos livros didáticos, havia material visivelmente interessante.

O ano escolar acabava sempre antes de chegarmos até aquele ponto.

Podiam-se encontrar livros maravilhosos sobre astronomia nas bibliotecas, por exemplo, mas não na sala de aula.

A divisão pormenorizada era ensinada como uma receita culinária, sem nenhuma explicação sobre como essa seqüência específica de pequenas divisões, multiplicações e subtrações conseguia conduzir à resposta certa.

Na escola secundária, a extração da raiz quadrada era dada com reverência, como se fosse um método entregue outrora no monte Sinai.

A nossa tarefa era simplesmente lembrar os mandamentos. Obtenha a resposta correta, e esqueça se você não compreende o que está fazendo.

Tive um professor de álgebra muito competente, no segundo ano, com quem aprendi muita matemática; mas ele era também um valentão que gostava de fazer as meninas chorarem.

Meu interesse pela ciência foi mantido durante todos esses anos escolares pela leitura de livros e revistas sobre a realidade e a ficção científicas.

A escola superior foi a realização de meus sonhos: encontrei professores que não só compreendiam a ciência, mas eram realmente capazes de explicá-la.

Fonte:
Sagan, C. O Mundo Assombrado pelos Demônios: a Ciência vista como uma vela no escuro, Companhia das Letras, São Paulo, 1996.

Um comentário:

Janilton disse...

Caro Prof.

Nem tenho o que dizer sobre o post. Eu também mantive meu interesse pela ciência desmontando placas eletrônicas. Mas infelizmente na faculdade pouquíssimos professores que me estimularam. Continuei me auto-estimulando baixando videos sobre ciência e experimentos virtuais.
Hoje faço iniciação em Novas Tecnologias para o Ensino de Física.

Um Abraço !