segunda-feira, janeiro 29, 2007

“NOVO JEITO DE GOVERNAR”: Vice-governador gaúcho ataca ingerência do marido de Yeda Crusius

“NOVO JEITO DE GOVERNAR”

Vice-governador gaúcho ataca ingerência do marido de Yeda Crusius

Paulo Feijó (PFL) abriu fogo contra o governo ao qual pertence. Os ataques atingiram o marido da governadora Yeda Crusius (PSDB). Feijó vê falta de legitimidade na atuação do economista Carlos Crusius no governo, lembrando que ele não concorreu a nenhum cargo e não recebeu nenhum voto. Além disso, criticou a equipe econômica de Yeda: "nunca administraram uma carrocinha de pipoca".

PORTO ALEGRE - O vice-governador do Rio Grande do Sul, Paulo Afonso Feijó (PFL), voltou a fazer duras críticas ao governo do qual faz parte desde o dia 1° de janeiro. E, desta vez, as baterias de Feijó voltaram-se também contra o marido da governadora Yeda Crusius (PSDB), o economista Carlos Crusius. Em uma entrevista concedida ao jornal ABC Domingo, do Grupo Sinos (Novo Hamburgo), que circula na região metropolitana de Porto Alegre, o vice-governador critica a influência do marido de Yeda no governo e a total falta de legitimidade dessa atuação, uma vez que Carlos Crusius não concorreu a nenhum cargo, não recebeu nenhum voto e não possui nenhum cargo no governo. Ao ser indagado sobre o papel de Crusius no governo Yeda, Feijó responde: “Esta foi uma das minhas críticas; pessoas que não receberam um voto, que pouca visão e experiência tem em empreender, em fazer negócios e gerar empregos, vem querer centralizar e dirigir o futuro do nosso Rio Grande do Sul”.

Conforme o relato do vice-governador, a influência de Crusius é muito grande desde a campanha eleitoral e permaneceu forte durante o período de transição. Feijó revela que o marido de Yeda teve muita influência na formulação no pacote de aumento de impostos, proposto pela governadora à Assembléia ainda antes de assumir, em dezembro. “Durante a campanha ele teve muita influência e durante o pacote também. Tanto que foi ele quem me comunicou as medidas. No dia do pacote ser anunciado à imprensa, quem comunicou a mim e a um grupo de pessoas ali, foi ele”. “O marido”, prossegue Feijó, “teve muita participação e influência em relação ao pacote proposto, tanto de reestruturação, quanto de aumento de tributos e manutenção”. O vice-governador diz ainda que discorda completamente da visão econômica do marido de Yeda. “Talvez por isso ele não goste de me ouvir, porque sempre tenho uma contraposição”.

“Nunca administraram uma carrocinha de pipoca”
Na entrevista ao ABC Domingo, Paulo Feijó volta a atacar o estilo centralizador de Yeda Crusius e do marido desta, confirmando que estão rompidos: “Nunca houve uma aproximação. Desde a campanha, a governadora sempre foi muito centralizadora e o núcleo dela, de dois ou três, é que decidia as coisas. Para mim não tem sido nada diferente depois de eleito ou durante a campanha. Não tem sido novidade. Nem para mim e nem para ninguém que acompanhou a campanha do governo”. O vice-governador também confirma que não é ouvido no governo: “Raras vezes me ouviram, raras vezes me ligam para alguma coisa. E durante a elaboração do pacote simplesmente não me ouviram. Quando estavam com o pacote pronto é que me mostram. Falei que concordava em tudo no que dizia respeito à reestruturação, mas que não concordava em nada em relação ao aumento de carga tributária”.

As críticas não param por aí. Feijó também ataca a qualificação da equipe econômica do governo Yeda e suas propostas de aumento de impostos e de corte dos créditos presumidos para exportadores: “Se o governo retirar o crédito presumido, o preço do produto interno vai subir e as pessoas vão começar a comprar de Santa Catarina, Paraná, São Paulo. Já sei que os burocratas ali disseram para acabar com os créditos presumidos. Tirar o crédito presumido é meter a mão e tirar a competitividade das empresas. Mas isso não entra na cabeça dos tecnocratas. Eles nunca administraram uma carrocinha de cachorro-quente. Esses caras nunca administraram a carrocinha de pipoca na esquina. Só por isso. Eles não entendem que o mercado é mais rápido do que eles. A caixa-preta da Fazenda é algo que nunca se conseguiu entrar”. O vice denuncia ainda que Yeda Crusius rasgou uma promessa de campanha: a de que não iria aumentar impostos. “Ela categoricamente disse várias vezes: ‘No meu governo não haverá aumento de imposto. No meu governo não haverá manutenção disso’”.

Problemas começaram na campanha
Para completar a lista de críticas, Paulo Feijó questiona a estimativa de déficit de R$ 2,3 bilhões, feita pela equipe econômica de Yeda, e a criação da Secretaria de Irrigação. “Duvido deste déficit. Quero ter as informações. Quero ter acesso à Fazenda, quero ver efetivamente as projeções de receita e despesa. Acho que tem um erro aí que pode ter uma variável de zero a R$ 1 bilhão. O déficit poderia ser de R$ 1,3 bilhões. Acho que a receita está sub-avaliada”. Feijó acredita que o problema é uma mistura de erro de cálculo com intenção de arrecadar mais: “Alguns podem ter errado, outros têm intenção efetivamente de arrecadar mais. Tu já viu alguém da Fazenda não querer botar a mão no teu bolso, algum fiscal não querer arrecadar mais? Sempre foi assim”. Sobre a criação de uma pasta especial para a Irrigação, ele resumiu: “Não tenho dúvidas que dá para a Agricultura cuidar disso. E não é nem a Secretaria da Agricultura, deixa que a iniciativa privada faça”.

As divergências entre Paulo Feijó e Yeda Crusius vêm desde a campanha eleitoral. Neoliberal convicto, Feijó é um entusiasta das privatizações e do Estado mínimo. Durante a campanha, defendeu a venda de várias empresas públicas e o enxugamento da máquina do Estado. Como a agenda das privatizações é rejeitada pela maioria da opinião pública do Rio Grande do Sul, Yeda decidiu fugir do tema que defendeu durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Logo depois da eleição, em uma palestra na Escola Superior de Administração, Direito e Economia, Feijó revelou que foi proibido de falar em privatização pelos marqueteiros de Yeda. E anunciou aquele que acredita que deve ser a principal meta do governo tucano-pefelista: “Vamos levar 10 anos para desmontar esse monstro. Vai dar desgaste? Vai. Vai dar crise política? Vai. Mas temos que enfrentar”.

Coalizão política esfacelada
O clima político entre Yeda e Feijó, que já era ruim, deve ficar irrespirável após as novas declarações do vice-governador. As duras críticas feitas à presença do marido de Yeda no governo tornaram público um descontentamento que existe em outras áreas do governo. Na campanha e no período de transição, Carlos Crusius desempenhou um papel central e centralizador. Ele participou das reuniões para a formação do novo governo, influiu na constituição do secretariado e acompanhou a equipe econômica em uma viagem a Belo Horizonte para conhecer o modelo de gestão do governador Aécio Neves (PSDB). Feijó, por sua vez, não participou de nenhuma reunião que decidisse algo importante, não foi ouvido para nada na formação do secretariado e muito menos na definição das primeiras medidas econômicas do novo governo. Carlos Crusius já teve problemas também com jornalistas que cobrem o Palácio Piratini, ao tentar interferir no trabalho destes. Problemas que levaram o colunista Paulo Sant’Ana, do jornal Zero Hora, a escrever no dia 5 de janeiro: “chega de intermediários, quero que, igual à troca de guarda no Palácio Piratini, seja imediatamente empossado no cargo de governador o marido de dona Yeda”.

A cereja no pudim da crise foi a decisão do vice-governador de participar dos protestos contra a primeira medida proposta por Yeda: o aumento de impostos. Esse é o resumo do ambiente político no governo do Estado, um governo que segundo Yeda prometeu na campanha vai apresentar aos gaúchos “um novo jeito de governar”. Não deixa de ser. A população do RS nunca presenciou, de fato, o que está acontecendo agora. A coalizão PSDB-PFL que elegeu Yeda Crusius está esfacelada. A tucana já disse que considera o PFL um partido de oposição ao seu governo. Mas ela enfrenta oposição no próprio PSDB. Descontente com a proposta de aumento de impostos apresentada por Yeda em dezembro, o deputado federal eleito Ruy Pauletti (PSDB), sequer foi à posse da governadora e disparou: “Yeda passou da conta”.

Fonte: Carta Maior

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