quinta-feira, dezembro 18, 2008

MALUFISMO GAUDÉRIO

De uns tempos para cá nós gaúchos descobrimos que não somos melhores do que os demais brasileiros. Sim, essa ilusão é ingrediente da nossa cultura política que enaltece supostas façanhas que deveriam servir de modelo a toda Terra. Mas essa descoberta já não é novidade. Os principais líderes de opinião da imprensa local já admitem essa constatação com naturalidade.

Certamente, se há algo que temos a mais do que os demais brasileiros, talvez seja a falta de humildade. Tudo indica, também, que talvez estejamos adquirindo uma característica muito comum na capital da República dos mensaleiros e sanguessugas: a cara de pau.

Dois fatos foram decisivos para acabar com a ilusão de que nós gaúchos seríamos portadores de uma pretensa superioridade cultural em relação aos brasileiros de outros estados.

Primeiro, quebramos nosso setor público. Sim, nós, povo gaúcho, quebramos o Estado! Afinal, fomos nós, o povo “mais politizado” e “mais culto” do Brasil, que elegemos os “melhores” gestores públicos e os fizemos responsáveis pelo rombo atual nos cofres do Estado.

Depois, outro fato, diretamente relacionado ao primeiro, sepultou de vez a crença de que seríamos, também, os mais honestos dentre todos os brasileiros dos demais estados da federação. Afinal, os políticos gaúchos nunca eram flagrados envolvidos nos escândalos de corrupção como aqueles que abarrotam as manchetes da mídia nacional diariamente desde há muito. E a mídia local desde há muito pouco tempo.

Gente importante e bem informada na mídia; nos meios intelectuais e na elite da sociedade gaúcha sempre soube que esse lero-lero nunca passou de lero-lero. Mas, todos, sem exceção, sempre preferiram calar e fingir que não viam o que todos sabiam existir. O silêncio é cúmplice. Em vários aspectos, a cumplicidade não é apenas no silêncio.

Não tardou e os escândalos transbordaram sobre esses pagos, também. E há outros por vir. Isso, se não forem acobertados por mãos invisíveis e interesses poderosos, devido à quantidade e magnitude dos rabos envolvidos. Isso também não é mais novidade.

No entanto, há algo que é, sim, novidade: a cara de pau dos corruptos, indiciados e denunciados que freqüentam as listas de suspeitos da polícia e do Ministério Público da província.

Essa gente, simultaneamente, freqüenta outras listas. A de convidados para os convescotes da corte. Todos prosseguem circulando pelas festas da elite da sociedade e pelas colunas sociais; sendo bem recebidos por gente importante, com a naturalidade com que Paulo Maluf acostumou-nos a conviver com suas negaças, mesmo perante a sucessão de provas que a Justiça nacional e internacional já acumula sobre sua controvertida riqueza.

Perdemos a vergonha.

Falo da vergonha que se abateu sobre o cidadão Ibsen Pinheiro, e que o levou a perder peso; anos de vida e a ganhar rugas e cabelos brancos, recolhendo-se à intimidade do lar e somente voltando à vida pública após a comprovação de sua inocência.

No Rio Grande de hoje, os inocentes têm vergonha. Os corruptos não!

Escrito por Paulo Moura

Nenhum comentário: