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quinta-feira, abril 09, 2009

Lógica? por Sírio Possenti De Campinas (SP)

Uma repórter que entrevistou Lula em Londres começou pedindo desculpas por ter olhos azuis. Foi sem dúvida uma boa sacada para provocar o presidente ou para fazer rir, mais precisamente, rir dele, talvez acuado. Mas a pergunta revelou também um erro de lógica. Exatamente como o do "ítalo-descendente de pele branca e olhos claros" que entrou com um pedido de explicação no STF "contra" o presidente, por causa de sua declaração culpando a "gente branca de olhos azuis" pela crise. Clóvis Victorio Mezzomo afirma que se sentiu pessoalmente ofendido... (Folha de S. Paulo, 4/4/2009, p. B10).


Freud não disse que toda frase curta é um chiste.

Alguns leitores cometeram a mesma falácia em mensagens que me mandaram pelo e-mail que Terra Magazine fornece para os que querem me desancar ou, eventualmente, manifestar concordância. Diziam que eram brancos etc. e que se sentiram ofendidos. Como se Lula tivesse se referido a eles.

Uma das "técnicas" que se aprendem já no segundo dia das aulas de lógica é que uma coisa é dizer, por exemplo, que "todos os cariocas são brasileiros" e outra que "todos os brasileiros são cariocas". A segunda sentença ou proposição não se deduz da primeira, porque não se pode concluir mais de menos. É que o predicado de uma afirmativa não é universal, ou distribuído, mas sim particular. Portanto, quando a sentença é convertida e ele vai para a posição de sujeito, não pode ser universal (todos); só pode ser particular (alguns). "Os cariocas são brasileiros" significa "todos os cariocas são alguns dos brasileiros". Depois, aprende-se que isso se chama de falácia do consequente ("se o carioca é brasileiro, então o brasileiro é carioca" seria um exemplo dessa falácia).

Voltando à declaração de Lula: convertida em uma sentença com formato das que estão nos silogismos, ele teria dito que "todos os responsáveis por essa crise são brancos de olhos azuis", e não que "todos os brancos de olhos azuis são responsáveis por essa crise". Ou seja, que alguns brancos de olhos azuis são responsáveis - os banqueiros, os Madoffs etc. Pretender fazer parte desse grupelho é erro de lógica ou pura pretensão? Não sei o que é pior.

Aparentemente, ninguém mais estuda isso na escola, uma lástima. Um dia tive que fazer longo exercício de paciência diante de um interlocutor que lera em Freud que os chistes são breves e insistia em achar que todas as suas frases curtas (breves) deveriam ser chistes, como se Freud tivesse escrito que tudo o que é breve é chiste. Uma boa piada.

Ah, sim, como Lula também não deve ter estudado lógica, já que foi por pouco tempo à escola e a que mais frequentou era uma que formava torneiros mecânicos, embora tenha se dado melhor como orador (os oradores são cheios de falácias), respondeu à moça gentil e sorridente, sem esculachar sua falta de lógica. Talvez por não saber nada disso. Talvez por causa dos olhos dela.

Alguns leitores acharam que defendi Lula quando disse que a expressão que empregou não é racista. O texto pode ter soado assim a certos leitores, mas não é o que está escrito. Pelo menos, se o texto for lido logicamente. O que eu disse é que se costuma analisar de forma equivocada muitas das falas de Lula, como se não fosse ele o pouco escolarizado, mas sim os analistas. Diz-se que fala por metáforas quando se vale de comparações ou de metonímias, que acusou todos os brancos, quando não foi o caso etc.

E assim se comete outro erro de lógica, outra falácia: toma-se a crítica das análises erradas como se fosse uma defesa das declarações de Lula e até de suas ações de governo. Um leitor, para mostrar que eu estava errado defendendo o Lula apelou para as manifestações do MST, que o presidente deveria reprimir... E eu falei disso?

Deveríamos ler pelo menos o velho Aristóteles. Também sua Retórica, é claro. Ou mesmo algum manual com a lista das falácias mais comuns. Seria bem mais útil do que uma lista de regras gramaticais.

Fonte:Sírio Possenti De Campinas (SP), Terra

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Deputado Adão Pretto

PERDEMOS UM GRANDE LUTADOR SOCIAL!!!

Conheci nosso querido Adão Pretto, há mais de 30 anos. Nos conhecemos numa atividade de pastoral da diocese de Frederico, aonde ele era um líder de sua comunidade e ministro da eucaristia. Frei Sergio Gorgen o apresentou fazendo muito boas referencias, de que se tratava de um pequeno agricultor, lutador, honesto, trabalhador, pai de nove filhos. E que tinha muito futuro. Criava sua família com o trabalho na roça, nas costas do rio Miraguai.

Naqueles tempos de ditadura militar, era muito difícil encontrar pessoas corajosas, que se dispusessem a defender os interesses da comunidade. Desde o inicio o admirei por sua sensibilidade social, por sua coerência, e franqueza. Nos encontros, costumava colocar em versos singelos, as idéias que matutava e as avaliações que fazia da política.

Por sua liderança e dedicação, foi eleito presidente do sindicato dos trabalhadores rurais do município de Miraguai, naqueles finais da década de setenta, na onda das oposições sindicais, que renovaram nosso movimento sindical.

No sindicato, dedicou-se a organizar os pequenos agricultores na luta por preços melhores, e também, com tantos sem-terras na sua base, passou a organizar o movimento dos sem terra.
Logo, transformou- se numa referencia política em toda região. Lembro dele, também, da romaria da terra que realizamos em 1981, na encruzilhada Natalino, com nosso primeiro grande acampamento. Adão Pretto declamou com um filho pequeno, uma trova gauchesca denunciando as formas capitalistas de exploração dos pequenos agricultores e a necessidade da luta. Impactou a todos os mais de 25 mil participantes.

O tempo foi passando, e em 1986 organizamos a maior ocupação de terras no Rio Grande do sul, que foi a então fazenda Anoni. Com mais de 2,5 mil famílias. E lá estava o Adão Preto.

Naquele mesmo ano, elegeu-se deputado estadual. Seria o primeiro deputado estadual camponês a tomar posse na assembléia legislativa. Uma grande vitoria do movimento camponês do Rio grande do sul. No inicio muitos colunistas da imprensa burguesa, riam de seu pouco estudo, afinal tinha apenas a terceira série do primário. A resposta veio numa atuação exemplar em defesa dos pequenos agricultores e sem-terras que impactou a toda sociedade gaucha, e lhe deu o Premio Springer de melhor deputado.

Depois elegeu-se deputado federal, defendendo com a mesma garra e coerência na Câmara dos Deputados e no dia a dia, os interesses da classe trabalhadora. Adão Preto não era o parlamentar padrão, que conhecemos. Não gostava da tribuna. Mas estava presente em todas as lutas sociais que se realizaram nesses últimos vinte anos. E as fazia repercutir no parlamento, na forma de leis ou de denuncia. Sempre o mesmo. Simples. Com uma coerência impressionante. Nunca titubeou. O critério básico que usava em sua vida e na participação política era se perguntar, o que interessa aos trabalhadores? E independente de tudo, os defendia.

Também, deu exemplo na sua forma de fazer campanha política. Nunca aceitou receber nenhum centavo de ajuda financeira de nenhuma empresas. Por mais que seus colegas o debochavam de perder oportunidades de receber polpudas ajudas das aracruzes, Vales, e outros corruptores. Todas as campanhas foram realizadas pela militância, e em debates das idéias e de projetos.

Os trabalhadores, o povo gaucho perde um de seus grandes lutadores sociais. O MST e a via campesina perde um de seus líderes mais coerentes e dedicados. Todos nos perdemos. Mas fica seu exemplo. Que certamente o imortalizará.

Grande Adão Pretto, nos deixará saudades a todos.

Porto Alegre, 5 de fevereiro de 2009.
Joao Pedro Stedile