sábado, janeiro 29, 2005

Uma voz em Davos

Editorial, Jornal Zero Hora, 29/01/2005

Menos de 30 horas depois de ter falado para uma platéia de militantes sociais e representantes de ONGs em Porto Alegre, o presidente Lula apresentou-se ontem diante de um auditório de empresários e dirigentes de governos no Fórum Econômico de Davos. O presidente adaptou o tom de seu discurso às diferenças que estavam a seu redor e que não se circunscreviam à diversidade de auditórios ou às temperaturas - de 30ºC positivos em Porto Alegre e 16ºC negativos na Suíça. E cumpriu uma das promessas que havia feito ao auditório do Gigantinho: a de que iria para o Fórum de Davos para repetir lá o que acabara de dizer aqui. A única diferença do discurso presidencial foi a de uma sólida mudança de tom e uma adaptação dos dados de seu governo para uma linguagem adequada ao novo auditório.

O presidente começou por enumerar a série de reformas patrocinadas por seu governo, entre as quais arrolou a previdenciária e a tributária, a Lei de Falências, as parcerias público-privadas, a reforma do Judiciário e as leis de patentes e inovações. Adequado ao plenário, citou a queda do Risco Brasil, o boom de exportações e especialmente o crescimento econômico verificado em 2004, de 5,3%, "o maior dos últimos anos". E, na área social, ressaltou a criação de "mais de 2 milhões de vagas" de empregos e a expansão do programa Bolsa-Família para 20 milhões de brasileiros pobres. No âmbito da diplomacia e do comércio externo, o presidente fez questão de ressaltar sua política participativa, que o conduziu a mais de 30 países em dois anos, levando-o a advogar uma mudança "na geografia comercial do mundo".

Descontadas as simplificações e algumas afirmações discutíveis - como a de que agora "o Mercosul está mais vigoroso" ou de que foi realizada uma reforma tributária -, o discurso de Lula cumpriu a função de dar uma visão positiva de nosso país e de seu papel no continente. Com a autoridade que conquistou na condição de torneiro mecânico que assumiu o poder num país tão importante como o Brasil e com o crédito de ter resgatado a confiabilidade da economia, o presidente convocou os empresários a conhecerem e investirem em nosso país e a confiarem em sua solidez e em suas potencialidades.

Uma das ênfases do discurso de Lula foi a renovação do apelo para que os países e empresários do mundo rico se engajem na campanha global pela redução da pobreza, que é também uma das Metas do Milênio estabelecidas pela ONU. A participação do presidente brasileiro e sua exposição a um auditório tão poderoso justificaram a viagem. Sua presença em Davos será importante não só para o interesse de nosso país, mas também para as causas do próprio Fórum Social Mundial.

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